RECORDAÇÕES " FEROZES "
Das Laceiras . . .
Ali , do Adro da Senhora dos Milagres ,
- onde agora canta ' o Carlos Manuel ' - ,
se vai p'ró lado de lá ... , até Cabanas
- das enguias do Mário Cerveira ,
sobrenome do meu avô comum -
e se vem p'ró lado de cá ... , até à Povoa da Apegada
- onde tinha a casa e a parreira do Pinto .
E a Póvoa de Santo António ? ... ,
hoje não ,
não faz parte deste poema !
Já teve um , p'rá Dores :
o " Burro do Zé Moleiro " ...
Mais p'ra baixo ,
na direção do centro
e do lado direito morava a Fernanda ,
cheia de pieguices ,
o pai dela queria que eu a namorasse ,
mas , coitada ,
tal qual este pobre poeta ,
sempre de bicicleta até ao Nun'Alvares ...
E , logo ali , à esquerda ,
por entre veredas e 1 Km a mais ,
se caminhava até à vinha do Diniz , que era de Canas !
Nessa vinha , que já morria desde cedo , com a " clorosa " ,
à direita ,
descendo " por caminhos de gato "
que teciam o pinheiral que restou :
a ' Pedra Encavalada ' ,
marcada pelas minhas fortes dores do tempo ,
e o ' Vale do Boi '
que ainda não tinha " pedras serradas e esterilizadas "
de tão lindas e fúnebres
p'ró Japão ...
De lá , se avistava o comboio ,
soltando roncos e nuvens de fumaça ,
perto da Lapa do Lobo ,
por onde passava a linha ,
que , então , marcava " a ferro e fogo " ,
exatamente " às 10 e meia "
a hora da " petica " ! ...
O " Rápido " marcava o almoço .
E , o comboio das 5 e meia
nos lembrava o tempo da merenda ...
Relógio ? ...
Não tinha ! ...
A 15 de Agosto ,
" os milagres " dos primeiros cachos de uvas ,
que já pintavam de preto ,
algo como um estágio de fazer renascer a vida ...
E , um pouco mais adiante , tudo p'ra vinho ,
que seria esmagado para brincar de " Cabra Cega "
no lagar ,
até , por inocência ,
a dar banho ás partes intimas ... ,
... por isso , " muito bom vinho" !
Recordações ferozes ... ,
povoadas pelo " veneno " dos apitos de barro ,
tal qual fanfarra , já com a noite caindo ,
sem nenhum destino
e sem nenhum propósito ,
com um intenso cheiro de pez
dos caçoilos vermelhos pendurados nos troncos
até à próxima colheita ...
E , na volta para casa , já com sono ,
apareciam muitas almas escuras ,
tentadoras e perigosas ,
todas literalmente ' penduradas ' dos pinheiros mais altos ... !
Ainda não tinha música ,
ainda não tinha o Carlos Manuel ...
Hoje ,
só sobraram recordações com marcas de fogo !
Mas , por incrível que possa parecer ,
tudo ganhou vida ali ...
Mário ,
" E o Paulo Moura , inocente ,
me apelidou mais um ' Poeta de Serviço ' ...
Mas , eu não aceito essa provocação ,
pois tenho muito medo
da poetisa Helena Figueiredo ! "
* * *
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